O primeiro jogo de The Last of Us foi unanimidade. Até hoje, é raro encontrar alguém que não reconheça sua qualidade. Mas com a sequência, Neil Druckmann deixou claro que não gosta de seguir a opinião da maioria. Ele transformou uma jornada de redenção em uma história brutal de vingança, com escolhas que, para muitos, são questionáveis. Mesmo assim, para muita gente, The Last of Us: Parte II se tornou um dos jogos mais importantes de todos os tempos. Quando a série da HBO foi anunciada, depois do sucesso do segundo título, ela claramente se inspirou na mesma fonte de Druckmann para criar a narrativa de Abby e Ellie. A mesma fonte de polêmica, controvérsia e, claro, apostas.
Na primeira temporada, as mudanças foram sutis. Como as versões “novas” de Bill (Nick Offerman) e Frank (Murray Bartlett), ou mesmo uma atriz que não tem uma semelhança visual tão forte com a protagonista. Mas no segundo ano, a coisa mudou de vez. As alterações não se limitaram a estética ou detalhes superficiais; elas impactaram a própria essência da história que fez a sequência tão divisiva. Até o último episódio exibido, no domingo, 11 de maio, a HBO já mostrou cinco episódios, mais da metade da temporada, e não há sinais claros de que “vingança, atos horrendos ou decisões questionáveis” farão parte da jornada de Ellie. Pelo menos, não com a mesma intensidade que no jogo.
A Humanização de Ellie e o Novo Rumo da Série
E aqui eu enfatizo a palavra história, porque não há como a série ser igual ou transmitir a mesma sensação que o jogo. São mídias completamente diferentes, e a forma como Parte II foi construída é impossível de ser transposta sem perder a interação e as escolhas que o jogador faz. A grande questão, no entanto, não é sobre como a série provoca as mesmas sensações que o jogo, mas sobre como ela suaviza os motes principais da jornada de Ellie (Bella Ramsey). No jogo, Ellie é uma jovem profundamente irritada com o mundo, com um carisma que se baseia em atitudes violentas e impetuosas. Na série, suas ações são mais pontuais, fazendo com que sua personalidade seja questionada. Parece até que a série tenta de todas as formas evitar mostrá-la como uma personagem tão vilanesca quanto no jogo.
Quem espera uma adaptação fiel vai se deparar com algo bem diferente. A segunda temporada desvia o foco da história para criar uma relação mais suave entre a protagonista e o público, buscando razões mais simples e justificativas plausíveis para suas atitudes de vingança. No jogo, Ellie usa a vingança como motivo, mas a verdadeira razão por trás de sua crueldade é o vazio existencial que ela sente em um mundo que poderia ser salvo, mas em que ela ainda não sabe como lidar com as consequências das escolhas de Joel. Ela odeia o mundo, não vê sentido em quase nada e, como um zumbi, vaga sem rumo, buscando um propósito.
Na série, Ellie parece ter mais um propósito e age movida por impulsos, ao invés de refletir um pavor profundo de viver. O romance com Dina (Isabela Merced), por exemplo, humaniza a protagonista de uma maneira que Druckmann e Craig Mazin escolhem explorar. A grande questão agora é como essas mudanças vão afetar o desfecho já conhecido da história, e como Abby (Kaitlyn Dever) será impactada por isso, visto que ambas têm suas jornadas completamente entrelaçadas. No jogo, claro, o desfecho é previsível, mas na série, resta saber como os criadores vão apresentar novas surpresas. Uma coisa é certa: The Last of Us não se contenta em repetir o que já foi feito. Eles estão dispostos a tentar algo novo, e isso pode ter um grande impacto no futuro da história.