A Nintendo foi notificada pelo Procon-SP depois de atualizar os termos de uso da Conta Nintendo com cláusulas consideradas abusivas. A empresa japonesa tem 48 horas para se explicar oficialmente. As mudanças geraram alerta entre especialistas em direito do consumidor, que apontam violações ao Código de Defesa do Consumidor (CDC).
O novo contrato permite, por exemplo, que a Nintendo bloqueie contas ou até inutilize consoles em casos de “uso indevido”, termo vago e sem explicações claras. Além disso, a empresa se reserva o direito de alterar os termos do serviço a qualquer momento, sem necessidade de avisar ou negociar com o usuário. Para o Procon-SP, isso fere direitos básicos dos consumidores e compromete o equilíbrio contratual.

Outro ponto problemático é a imposição de arbitragem individual obrigatória, o que impede ações coletivas contra a empresa. O contrato também tenta proibir qualquer outro tipo de processo representativo, o que, na prática, limita o acesso dos consumidores à Justiça, especialmente em casos que envolvem muitos usuários ao mesmo tempo. Isso contraria a legislação brasileira, que garante ao consumidor o direito de escolher como quer acionar a Justiça.
Tradução mal feita e descuido com o público brasileiro
Usuários nas redes sociais também notaram que vários trechos do contrato parecem ter sido traduzidos diretamente da versão americana, sem adaptação ao contexto legal brasileiro. Um exemplo é a referência à resolução de disputas “sem júri”, algo que simplesmente não existe no sistema jurídico do Brasil. Esse tipo de erro levanta suspeitas de que a Nintendo copiou as cláusulas de fora sem se preocupar com as leis locais, o que reforça a impressão de descuido com os consumidores daqui.

As mudanças no contrato ocorrem pouco antes do lançamento do Nintendo Switch 2, previsto para 5 de junho. A expectativa é que o novo modelo tenha uma proteção mais rígida contra pirataria, problema que afetou o console anterior. Mas o Procon-SP foi claro: medidas de segurança não podem atropelar direitos garantidos por lei.
Até o momento, a Nintendo não respondeu à notificação. Se seguir em silêncio ou se recusar a ajustar o contrato, poderá sofrer sanções administrativas e enfrentar medidas judiciais. O recado está dado. Proteger seus produtos é legítimo, mas precisa respeitar as regras do país em que atua.